Spoken Word Journal
12/05/2016
Projeto

Depois de algum tempo trabalhando com instalações sonoras e trabalhos em spoken word, decidi desenvolver um projeto que pudesse dar visibilidade a uma serie de trabalhos de artistas que pesquisam a palavra e o som (modo spoken word) de forma contemporânea. TUN DUM tem a estrutura de um jornal sonoro e consiste na criação de uma rede de experiências em áudios que explorem o spoken word como performance oral, performance do corpo, criadora potente de imagens, que avança e borra os limites entre artes visuais, poesia e música. A criação desse campo de experimentação onde esses elementos se cruzam torna-se o ponto de partida para o projeto que apresentará artistas que já trabalham com essa linguagem.

Um processo de curadoria procurará encaixar um ou dois trabalhos de cada artista a cada número do jornal de acordo com a pauta que estiver incidindo.

O rosto dessa coluna do jornal pode conter ou não uma imagem que acompanhe as investigações do artista, sendo avaliado se a imagem consegue se conectar e acompanhar o conceito que o Jornal escolheu abarcar em determinado número/edição.

Em seu primeiro número TUN DUM conta com a colaboração do Jornal de Borda, projeto da artista Fernanda Grigolin, no qual eu já vinha atuando como colaboradora desde o começo em seu formato físico e que agora segue em versão web. TUN DUM terá sua primeira edição vinculada ao Jornal de Borda.
Natalia Coutinho
Existe um campo imantado que é construído através das vozes do sujeito, eu digo vozes e não voz, porque existe uma série de nuances de personas que se dividem dentro de um único ser e se manifestam nessas mudanças de entonações que a fala dá. Essa espécie de fenômeno é como uma construção e ao mesmo tempo uma autoconstrução de nós mesmos na medida em que nos apropriamos muitas vezes de falas que não são originalmente nossas para edificarmos um discurso pessoal. Dá-se aí uma confusão, uma contradição maravilhosa, nesse corpo do outro falando pela nossa boca.

A fala foi a primeira forma encontrada pela poesia, foi ela que corporificou uma explosão de pensamentos, sentimentos que se debatiam dentro do corpo do sujeito, que saíam dele, ou de forma mais bruta ou de maneira extremamente sofisticada e polida e o spoken word foi abarcando então essa carga gigantesca que o corpo do performer comprime. Naturalmente no cotidiano essa espécie de performance já existia e acontecia o tempo todo, o performer só amplificou e virou o espelho ao espectador, fazendo-o encontrar a sua própria voz na fala desse performer, chamando-o assim para esse jogo de espelhos.

O sonho de ter um jornal sonoro com foco em spoken word já existia há algum tempo, mas foi dentro desse momento em que estamos vivendo no mundo e mais especificamente no Brasil, onde falas ligadas a tortura, a opressão de minorias foram absurdamente banalizadas, onde vemos que a nova ditadura já não precisa de porão, pois vem atuando aberta e livremente e tentando calar qualquer voz, seja por meio da mídia, seja por meio de força policial covarde e explícita, que o projeto nesse primeiro número recebeu um apoio do Jornal de Borda para que trouxesse então esse caldeirão de vozes de bruxos e bruxas, performers maravilhosos para repetir suas palavras mágicas aqui nessa página por mil vezes e com elas acionarem um poder ainda maior que aquele que tem sido implantado pela nova velha ordem. Que venham todas essas vozes então e que gritem todas ao mesmo tempo que não existe uma só verdade, uma só palavra...imposta.

N.C.
1.
Para esta primeira edição do Jornal Sonoro convidei os artistas Bruno Mendonça, Liana Padilha e Marion Velasco para juntos darmos início a esta plataforma. Os três artistas que já vem trabalhando juntos há alguns anos e nesse ano de 2016 se reúnem novamente no Programa Público de Performance Península [PPPP] organizado pela Galeria Península em Porto Alegre que irá ativar e promover trocas entre artistas contemporâneos na área da Performance através de residências artísticas e encontros. Em 2015, o Programa foi contemplado nos editais do Fumproarte/POA e FAC/RS. Os artistas apresentam em suas trajetórias produções transdisciplinares e híbridas, normalmente de caráter colaborativo, mas que de uma forma geral apontam para uma questão recorrente, que seria a da exploração de uma ideia expandida de narrativa e de texto.
ZOO
LIANA PADILHA 2016
base: Peri Zorella
alimentamos os bichos
que vivem dentro de nós
Criamos esses bichos
Levamos pra passear
em lugares lindos
que visitamos dormindo
Lavamos nossos bichos
com os melhores sabonetes
como se eles fossem nossos
e enrolamos eles
em lençois de mil fios.
esquecemos tudo.


Não alimente os animais
BRUNO MENDONÇA
maio (excertos do poema visual do artista Leonilson)
MARION VELASCO
Ación en El Núvol
NATALIA COUTINHO
tragam suas crianças
demonstração de poder
aprender
limpem os olhos delas
limpem os olhos delas
livrem-nas do mal
livrem-nas do mal
essas são as escrituras
essas são as extruturas
essas são as estruturas
visualize o lado certo
visualize o lado certo
perceba o encaixe
treinem os olhos delas
treinem os olhos delas
lavem os olhos delas
treinem os olhos delas
tragam suas crianças limpas
tragam suas crianças cegas
tragam suas crianças mortas
MAR DE NADA



ela me deu um mar de nada p'reu nadar
ela me deu um copo de nada p'reu brindar
chega de Tarkowski e vem pra cama

tudo o que eu sinto por vc vai passar a noite na tv





venha de salto alto, venha de bicicleta ,




venha de exorcista




venha de camiseta




PEP
BRUNO MENDONÇA
( Profilaxia Pós Exposição )
Violentamente sua filosofia não vai nos ajudar
e foi lançado ao infinito
bicho solto, febre, pressa


um outro olhar perdido

flashs da noite passada na saliva, no suor
e foi lançado ao infinito
na pele , no cheiro

no corpo dores doces

alguns barulhos de copos

cinzeiros cheios , temor

e o fato





de eu ler o que se passava





não alivia





no fundo, saber só torna tudo mais perigoso







muito mais







perigoso







Seu movimento em minha direção alterou as rotas e ondas
invisíveis
O fato de eu ler o que se passava aquela hora não alivia
Liana 2016







Design: Natália Coutinho
Programação: Raquel Uendi
Agradecimentos a Juan Herrera Prado(gif Logo TUDUM)

A Diogo de Nazaré em edição de Crianças e a Mário del Santo pela edição de
Mar de Nada.

A Bruno Galan , Claudio Bueno e Fernanda Grigolin











CRIANÇAS
Violentamente
_ V
LIANA PADILHA
NATALIA COUTINHO 2016